Wednesday, October 12, 2005

 

Caro amor antigo,

talvez na verdade quem não esteja pronta pra você seja eu e assim arranje pequenas fugas, foras, desculpas... Talvez nem seja um problema... Talvez nem precise fazer nada para resolver. E isso tudo pode ser aquele tipo de felicidade serena que já lhe falei certa vez. É, nesses últimos tempos, tenho sentido uma felicidade que não transborda, que não tem sorrisos eternos estampados no rosto, felicidade que se encontra muito mais no olhar do que no resto do corpo. Felicidade que não se propaga, não doma meu ser. Uma felicidade assim que às vezes nem se sabe feliz. Deve ser a felicidade serena que só fui notar agora em plena primavera. Talvez eu nem queira outro tipo de felicidade por ora. Talvez eu tenha me escondido esse tempo todo só pra ter certeza que os receios e a nossa mágica ficaram de verdade para trás. Talvez por isso tenho desenvolvidos bloqueios e pequenos falsos envolvimentos, só pra me distrair. Talvez eu não queira mais nem isso. Talvez seja hora de superficilidades ou de grandes envolvimentos. Enquanto não se definem os traços vou dançando sozinha e muito bem se é que isso lhe interessa... Não quero mais conversas ou reflexões sobre o que houve e o que se perdeu. Desconfio seriamente que até o que eu pensava ter sido forte tenha sido apenas um sentimentozinho ou até mesmo um certo comodismo ou carência. Eu sei que isso não deve ser agradável para você, minha intenção não é machucá-lo. Muito tempo se passou de lá para cá. Acho que meu jeito de ver as coisas mudou de verdade. Não sei ainda se isso é bom ou ruim, tô no meio do caminho ainda deixa findar pra eu decidir. Eu sei, eu sei... você não gosta desse meu novo jeito de estar e não estar, de rondar divesos cenários e não me deixar enquadrar em nenhuma trama. É que para espetáculos minha posição sempre foi de espectadora. Você sempre soube que minha única arte é a escrita o resto não me pertence. Como então você me queria atriz? A sinceridade sempre foi forte demais em mim para que eu pudesse fingir ser essa outra que um dia você (nós?) fantasiou. Ao menos tentamos viver aquela história que inventamos, mas a inquietude de minha alma é grande demais para apenas uma fantasia. Sou mesmo mais independente, nem sei se a palavra é essa... talvez seja apenas mais fria ou menos amante. Não sei... o sentimento existiu pode ter sido só um sopro que me alimentou todo esse tempo e foi tão bom. Não estranhe a carta mandada só agora depois de meses mas é que sabia que cada um precisava de seu tempo andando por novos rumos pra sabermos o que fomos. E de qualquer forma sempre achei que devia mais explicações do que "vou buscar novos ares, novos vôos" ditos assim brevemente e sem nenhum pudor daquele dia. Deixei muitas dúvidas eu sei... Os seus telefonemas propositadamente mudos me dizem isso e tenho ensaiado esta carta desde então tentando te levar algumas das minhas respostas, você deve ter as suas. Talvez não tenha nem havido um rompimento e nosos caminhos se cruzem por aí em qualquer esquina pegos desprevenidos. Não tente me entender, nem procure tantas explicações vivemos o que havia para ser vivido e o espetáculo não pára quando novos personagens entram em cena e alguns outros morrem ou vão fazer longas viagens. s luzes continuam acesas, não há que se procurar nada nas cochias. Meu camarim estará sempre trancadoa sete chaves porque os meus segredos não revelo a ninguém. Talvez não tenha dado certo por essa sua mania de tudo querer saber e essa minha sina em vetar a entrada em alguns espaços de minha alma. Bom, tenho que ir a vida já me chama. Não se preocupe comigo, meu bem. Não precisa responder esta carta. Nem precisa me procurar, acho que agora também te sentes livre e pronto pra alçar teus vôos. Sei o quanto pesam coisas mal resolvidas nessa sua alma já tão presa ao chão. Vou indo querido levando sempre seu cheiro na alma e colhendo outros beijos por aí.
Com carinho,
Brisa
PS: aí vai aquele poema de Bandeira. você sabe bem qual.
Arte de Amar
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar a satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

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