Sunday, August 21, 2005
car@s cúmplices,
é isso mais do que amigos, somos cúmplices. Porque quando nos reunimos não há apenas o que foi vivido, o que ficou pra trás, há vida, as coisas continuam assim paralelas aos problemas cotidianos nosso eterno encantamento, alumbramento com a vida permanece. E juntas a leveza se perfaz, a música enche a casa em nossas vozes uníssonas e desafinadas ("é que no peito dos desafinados também bate um coração") e sobretudo felizes. E Caetano é mesmo nossa cara, nossas cores (trem das cores), nosso berro (não enche), nossa chuva (os passistas). E nossos laços são tão fortes que até longe ouvimos o mesmo Chico. E desejamos intensamente a mesma música - telepatia - "não é por estar na sua presença meu querido rapaz...". E ainda temos nossos brincos preferidos trocados. É que o que se viveu juntas marcou e permanece. Carinho não se desfaz. E nossos abraços são sempre os melhores do mundo. E o violão tava muito bom mesmo, Ceci. E Mané faz parte das meninas mesmo. e agora há mais uma menina, uma menininha pra preencher nossas vidas. E não é só saudade porque ainda se vive, longe, esporadicamente mas a música ainda é a mesma e o sorriso nos lábios é o mesmo e os olhares cúmplices. Os olhares sempre dizendo além do que se diz por palavras. E as risadas, a complementação de um no outro. A Tropicália COMPLETA. Nossas músicas incompletas...Tudo flui tão facilmente. Fluidez. A energia única, harmonia entre pessoas e lago, sim porque ele nos entendia e é sujeito dessa história "A minha escola não tem persongem. A minha escola tem gente de verdade. Alguém falou de Fim-do-mundo. O fim-do-mundo já passou" E quem passou de vez ainda é lembrado sabe "Iracema" e quem tá sempre circulando, chegando e indo, sorrindo "que eu estou vestido com as roupas e armas de Jorge!" e quem foi e deixou coisas boas "viva gabi-bi-bi-bi" tudo se faz tão presente, tão intenso. Viver vida intensamente, mais: sentir a vida intensamente. Permear o dia-a-dia de poesia. E o que se escreveu tempo atrás continua se encaixando perfeitamente "mas podem ser o que você desejar" E os momentos são líricos e ficam passando como filminhos. Nossa chuva inesquecível cheia de dança, cheia de música, cheia de luz, cheia de cumplicidade. E o melhor é saber que não passou, não ficou pra trás, que não perdeu a graça nem o brilho. O melhor é saber que continuamos cúmplices um da vida da outro, presentes na umidade do ar. E é tão bom ter essa rede a me amparar na trilha de corda bamba que é se tornar adulta, é tão bom mudar e saber que algumas coisas não mudam, são pra sempre (como eu criança imaginava que seria), que eu me tornando outra ainda preservo em mim esse doce eu que somos nós. Porque sempre há alguém pra se lembrar quando se ouve qualquer coisa mesmo que seja um infindavel "olha aí, ah! olha aí, olha aí". E que tudo é pode ser, deve ser brincadeira, leveza e nesse caso não há nenhuma intransponibilidade entre o dever-ser e o ser. É tão bom se indagar conjuntamente "Quem esticou o pescoço da girafa?/Quem colocou o navio nessa garrafa?/ Quem foi que disse/ que a casca do caracol é só uma casa?/ Só voa quem tem asa/ namora quem se casa/ Quem rabiscou nuvens no céu azulado?/ E quem mandou o caranguejo andar de lado?/ Quem foi que disse/ que o giro do girassol logo termina/ quando a lua menina/ que existe essa sina/ Que a alga não tem algo de alface?/ Que é no Japão que o Sol primeiro nasce?/ Quem foi que disse?..." E reescrever assim com tanta segurança: "Rir. Soltar o ar. Ser feliz. Respirar. Falar às margaridas. Escrever com penas. Transbordar felicidade. Rezar baixinho de olhos fechados. Ser plena. Tanto quantoàquela lua. Aquela meia-lua inteira. Exalar rosas. Sorrir lírios. Deitar na grama. Andar de olhos fechados. O vento no rosto. A areia ao vento. O mar com sua noiva dançando faz seu véu ir e vir, numa eterna valsa. Esperar ônibus sem se preocupar em perdê-lo. Sentar junto ao lago. E segredar coisas inconfessáveis. Apelidar. Chorar no ombro de alguém. Deixar que alguém chore no meu ombro, também. Conversar ao telefone. Lembrar ao uma música do amarelo da margarida. Ser boba. E poder gritar ao mundo: sou feliz!" É que de fato a parte da música que era pra mim se aplica a todos nós. "Essa paisagem tão monumental/ não pode ser fruto de uma mente racional/ e o elemento fascinante está em tudo o que se vê/ Nunca podemos esquecer os sentimentos/ Abstração total em todos os momentos/ esse é o formidabilíssimo caminho que devemos seguir..." É isso gente, todo esse texto que só faz sentido pra nós foi pra dizer que amos vocês à beça e duplamente: amo individualmente e amo todos juntos. porque existe um eu de cada um e existe um eu-nós. E que esse eu-nós continue assim colorido, assim melódico e hamonioso, que continue assim vivo.