Saturday, July 16, 2005
Caro amigo samba,
me lavasse a alma. Leve, leve, leve. Não importa que os pés doam, sambar é essencial. O corpo num ritmo único, independente, livre de qualquer outro comando que não seja batuque, que não seja o som. Pés, pernas, mãos e cabeça sincopados. Porque samba é estado de espírito e me comanda. Porque samba talvez seja apenas uma nova terminologia e uma nova forma de expressão para a alma. Porque ritmo e dança não têm nada de cérebro ou de racionalidade. É instinto, é sentimento, é ação involuntária. É o samba chegar, a dança tomar seu lugare tudo o que está em mim se tornar ritmo, minha alma se transfigurar em alma-samba. E no suor tudo que é indevido dá adeus pra nunca mais. E nessa hora pouco me importa a tranqüilidade da vizinhança e o sono alheio. Sambar é preciso porque o samba não pede autorização pra chegar, não gosta de formalidades. Chega e toma conta da casa. O samba me põe em brasa e assim transpiro, transbordo, transformo samba-alma.
Samba a dois (los hermanos)
Quem se atreve a me dizer do que é feito samba?
Quem se atreve a me dizer?
Não, eu não sambo mais em vão
O meu samba tem cordão
O meu bloco tem sem ter e ainda assim
Sambo bem a dois por mim
Bambo e só, mas sambo sim
Sambo por gostar de alguém
Me lavra a alma, me leva embora
Deixa haver samba no peito de quem chora
Quem se atreve a me dizer do que é feito samba?
Quem se atreve a me dizer?
Quem me ensinou a te dizer
Vem que passa o teu sofrer
Foi mais um que deu as mãos entre nós dois
Eu entendo o seu depois
Não entenda assim por mal
Mas pro samba foi vital falar em
Me laça a alma, me leva agora
Já que um bom samba não tem lugar nem hora
Nem se atreva a me dizer do que é feito samba
Nem se atreva a me dizer