Thursday, June 09, 2005

 

Caro amigo Escrúpulo,

eu juro que fico me perguntando todo-santo-dia-de-dona-izildinha o que minha avó, sem sombra de dúvida, já se perguntava quando ele nasceu: para onde é que vai o Partido dos Trabalhadores?

Filiei-me ao PT nas vésperas das últimas eleições para a prefeitura. Carteirinha eu não tenho ainda, mas o papel verde que serve de comprovante para a minha alma vermelha de que sou militante do Partido está no cofre do carro até hoje. E hoje, quem diria, eu tenho dúvidas sobre minha condição de petista. E não, minhas reclamações não são por conta do Governo. Este nunca foi, nunca será, não nos próximos meses-nunca, um Governo de esquerda. É qualquer coisa que eu, há alguns dias, julgava estar em disputa, em construção, em diálogo com os movimentos sociais e com os focos de resistência da esquerda brasileira, mas que não está. E não está porque a Reforma da Previdência - peloamordedeus - não estava. Não está porque a Reforma Universitária com seus retrocessos e prejuízos ao que é público, não está. Não está em disputa porque diálogo pressupõe afirmação e o Governo do lado dos movimentos toma a cara de quem já foi e entende o movimento, mas do lado do patrão, posa de prudente centro-esquerda da medida do possível econômico e neoliberal: esquizofrenia! Meu problema não é com o Governo porque, com sinceridade, aqui a esperança pode até ter vencido o medo, mas o terno, a gravata e a barba feita tiraram da esperança a própria esperança.

Meu problema, e dessa vez com maior sinceridade ainda, é com o PT. Porque o Governo não está em disputa, mas e o PT, cara pálida? O PT está em disputa? O PT ainda é um espaço para o convencimento e de fortalecimento da emancipação social? Ah, eu não sei. Porque na disputa interna da minha ontologia - acho que Pessoa explica - metade de mim é a paixão pela estrela e metade de mim é desassossego e decepção. Alas minoritárias do Partido, o que se convencionou chamar de esquerda do PT, apontam duas saídas. A primeira delas é estar no Partido porque esse "estar" é estratégico, tático. O PT, apesar de não estar realmente em disputa, ainda seria o único espaço de diálogo partidário possível. A segunda saída, por fim, é a derradeira saída: rumar para o P-SOL, o Partido daquela senhora com quem muito simpatizo, Heloísa Helena. E mais uma vez: eu não sei!

Não quero ser partícipe de algo por estratégia. Não estou em guerra, não jogo war, não brinco de comandos em ação. Isto é política. E dizer-me PT apesar-de-tudo por não ter mais para onde ir, parace-me covardia. Se não há construção? Busquemos outras searas, ora bolas! Não há razão de fincar o pé num oportunismo por mim incompreensível. De outro lado, deixar o Partido, rumar para o P-SOL é apostar em algo longínquo, que hoje existe ainda de uma forma bastante rarefeita e sem contornos muito bem traçados. Quem garante que o P-SOL será realmente uma alternativa emancipatória e não apenas um gueto daqueles(as) que não ocuparam os cargos da direção majoritária do PT? E ainda tem mais aquele argumento, clichê mas verdadeiro, apresentado sempre pelo campo majoritário e pelas alas mais governistas, de que se há uma possibilidade de esquerda efetiva no país atualmente está no PT.

Eu, juro que pela última vez, não sei! Dá-me tudo isso a impressão de que há duas alternativas: militar em nome da fraca possibilidade de construção atual da esquerda, ou militar pela distante e sonhada construção da esquerda - real esquerda - de nossos ideais, em que erros não seriam cometidos novamente. E são ambas as possibilidades frágeis demais. Isso porque não se pode tirar de ninguém o direito humano fundamental de errar. Ou estaria-se tirando inevitavelmente também o direito fundamental de tentar. Assim pensaram aqueles e aquelas que, na época de minha vozinha que nunca foi e esquerda mas que sempre foi da história, fundaram o PT.

É, o mundo começa agora, apenas começamos.
Comments:
Roberto...Que texto sincero e exclarecedor...Tão bom de se ler...=)


Beijo.
 
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