Wednesday, March 30, 2005

 

Cara amiga Recife, caro amigo Recife

Nunca sei teu sexo. A cidade, o município, o Antigo, a engarrafada, o sedutor, a amiga, o amor, a dose, o gole. Nunca sei teu sexo, porque foi em ti que perdi o meu. Não sei porque às vezes insisto em esquecer disso. Ganho outros ares, outras temperaturas. Mas vista você de longe, de cima, ou estando eu embrenhado em tuas vielas, em tuas favelas, em tuas pontes, num, noutro cais, és-me mulher e homem de minhas aventuras. Talvez porque foi em ti que me afirmei, talvez porque tua gente, nas calçadas e nas ruas, me entontece, talvez porque as águas que te cortam, também cortem meu passado e todos os rios que desaguaram no mar vermelho de minha alma, talvez porque me reconheças: és-me linda, querida. E linda, quero-te ao colo a dizer palavras minhas e sorrir de minhas besteiras. E lindo, quero-te de olhos em meus olhos e perdido com minhas mãos. Porque, Recife, respiro teu março, respiro tua história, respiro tuas bandeiras, revoluções, revoltas, sotaque, sangue, saudade. E o faço porque respirá-lo é andar entre o oculto e intacto. O faço porque não me quero longe de teus mistérios, de tuas sombras, de tua noite. Quero-te bem perto, sempre mais perto, da tarde mansa que sou eu, do céu cinzento que sou eu, do mar vadio que sou eu, do furacão em rota que sou eu. Junto de ti estou mais seguro, mais arriscado. E não posso deixar de estar mais em casa, mais acuado. Porque és, Recife, minha verdade. E eu que não tenho medo de conhecer minhas verdades me sinto como a tua voz que dita meus passos. Pois nunca sei teu sexo, mas sei do meu e o meu és-te inteiro e o meu és-te rubro e bonito como uma manhã de carnaval
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